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terça-feira, fevereiro 19, 2013

Cruz das Almas, 12 de fevereiro de 2013

Eu tinha decidido passar o carnaval em Salvador para adiantar umas atividades da faculdade. Mas o coração balançou de saudade e decidi, segunda à noite, viajar para minha cidade, ver minha mãe e passar o feriado em casa. Bom, preciso dizer que foi uma excelente ideia.
Cheguei à noite e vi o quão vazia estava a cidade. Terça-feira pela manhã, tive a certeza que apenas minha mãe, meu pai, minha tia e eu tínhamos ficado na cidade. Engano. Minha mãe disse: - Hoje vai ter um "triozinho" na praça; Teve no domingo e vai ter hoje de novo. Logo decidimos que quando a fanfarra passasse pela nossa rua, iríamos prestigiar. Fizemos mais que isso. Acompanhamos a banda. Foi um verdadeiro espetáculo. Vi um trio bem pequeno tocando marchinhas antigas, vi um povo lindo dançando, esquecendo suas mágoas. Vi Meire e as muitas vozes que dentro dela habitam, todas numa harmonia ímpar. Brincavam todas: ela e as outras dela. Vi seu João animar-se em sua cadeira de rodas quando aquele singelo carnaval passou em sua porta. Vi muitos acenos nas portas de casas simples. Ouvi Chiquita bacana, Aurora, Ô abre alas, Mamãe eu quero e tantas outras. Vi uma festa feita pelo povo, para o povo, sem cordas, sem cobranças absurdas, sem violência. Ali todos tinham direito de brincar, de dançar, se divertir. Os sorrisos eram sinceros, os abraços calorosos, as serpentinas e confetes alegravam a comemoração daquele momento. Não havia os que pagavam mais e os que pagavam menos. Não havia direitos negados, nem havia segregação por motivos quaisquer. Todos eram azuis, vermelhos, laranjas. Precisava-se apenas de alegria para estar ali no “bloco dos que não foram”. E como foi bonito ver o grupo crescer. As pessoas começarem a acompanhar o cortejo. Todos saíam na porta para receber de coração tão aberto aquele momento de fantasia. E isso me fez lembrar a poesia de Chico: “A minha gente sofrida despediu-se da dor pra ver a banda passar”. Mas era mais que a passagem da banda: era um convite à alegria, eram sorrisos abertos e mãos estendidas: “- Vem virar pierrot! Vem ser o quiser ser!”. As crianças? Ah, essas fizeram uma festejo peculiar. Lindo vê-las se divertindo tão inocentemente. Tão lindo vê-las fantasiadas, sorrindo, pulando o carnaval. Foi tão especial ver meu povo dançando e cantando feliz. Ver minha mãe divertir-se, reencontrar amigos, cantar as canções de “seu tempo”. Encantador ver alegria manifestar-se sem violência, sem agressão a mulher, sem divisão de classes, sem exclusão.
Então, fiquei pensando: todo carnaval deveria ser assim. Apenas a expressão da alegria. Uma alegria distante da violência e longe do poder maldoso e destruidor do dinheiro. Todo carnaval deveria ser um momento de comemorar junto, de sorrir da vida e para a vida. Todo carnaval deveria servir para mostrar a todos o que me mostrou hoje: mostrar que alegria não tem idade, nem cor, nem depende da sua conta bancária. Mostrar que alegria deve ser compartilhada, que a dança liberta e engrandece. Foi uma bela terça de carnaval. Espero poder vivê-la mais vezes. E que seja sempre assim. Um misto de força e alegria. A expressão de um povo forte e que sabe sorrir, que sabe driblar os problemas da vida. Ouvi dizer que ano que vem o carnaval da minha cidadezinha vai crescer. Ah, espero que não. Espero que ela continue assim: pequeno e digno de todos.
Foi um ótimo carnaval. Deixou saudade.


Erika Correia

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