Cruz das Almas, 12 de fevereiro de 2013
Eu tinha decidido passar o carnaval em Salvador para adiantar umas
atividades da faculdade. Mas o coração balançou de saudade e decidi,
segunda à noite, viajar para minha cidade, ver minha mãe e passar o
feriado em casa. Bom, preciso dizer que foi uma excelente ideia.
Cheguei à noite e vi o quão vazia estava a cidade. Terça-feira pela manhã, tive a certeza
que apenas minha mãe, meu pai, minha tia e eu tínhamos ficado na
cidade. Engano. Minha mãe disse: - Hoje vai ter um "triozinho" na praça;
Teve no domingo e vai ter hoje de novo. Logo decidimos que quando a
fanfarra passasse pela nossa rua, iríamos prestigiar. Fizemos mais que
isso. Acompanhamos a banda. Foi um verdadeiro espetáculo. Vi um trio bem
pequeno tocando marchinhas antigas, vi um povo lindo dançando,
esquecendo suas mágoas. Vi Meire e as muitas vozes que dentro dela
habitam, todas numa harmonia ímpar. Brincavam todas: ela e as outras
dela. Vi seu João animar-se em sua cadeira de rodas quando aquele singelo
carnaval passou em sua porta. Vi muitos acenos nas portas de casas
simples. Ouvi Chiquita bacana, Aurora, Ô abre alas, Mamãe eu quero e
tantas outras. Vi uma festa feita pelo povo, para o povo, sem cordas,
sem cobranças absurdas, sem violência. Ali todos tinham direito de
brincar, de dançar, se divertir. Os sorrisos eram sinceros, os abraços
calorosos, as serpentinas e confetes alegravam a comemoração daquele
momento. Não havia os que pagavam mais e os que pagavam menos. Não havia
direitos negados, nem havia segregação por motivos quaisquer. Todos
eram azuis, vermelhos, laranjas. Precisava-se apenas de alegria para
estar ali no “bloco dos que não foram”. E como foi bonito ver o grupo
crescer. As pessoas começarem a acompanhar o cortejo. Todos saíam na
porta para receber de coração tão aberto aquele momento de fantasia. E
isso me fez lembrar a poesia de Chico: “A minha gente sofrida
despediu-se da dor pra ver a banda passar”. Mas era mais que a passagem
da banda: era um convite à alegria, eram sorrisos abertos e mãos
estendidas: “- Vem virar pierrot! Vem ser o quiser ser!”. As crianças?
Ah, essas fizeram uma festejo peculiar. Lindo vê-las se divertindo tão
inocentemente. Tão lindo vê-las fantasiadas, sorrindo, pulando o
carnaval. Foi tão especial ver meu povo dançando e cantando feliz. Ver
minha mãe divertir-se, reencontrar amigos, cantar as canções de “seu
tempo”. Encantador ver alegria manifestar-se sem violência, sem agressão
a mulher, sem divisão de classes, sem exclusão.
Então, fiquei
pensando: todo carnaval deveria ser assim. Apenas a expressão da
alegria. Uma alegria distante da violência e longe do poder maldoso e
destruidor do dinheiro. Todo carnaval deveria ser um momento de
comemorar junto, de sorrir da vida e para a vida. Todo carnaval deveria
servir para mostrar a todos o que me mostrou hoje: mostrar que alegria
não tem idade, nem cor, nem depende da sua conta bancária. Mostrar que
alegria deve ser compartilhada, que a dança liberta e engrandece. Foi
uma bela terça de carnaval. Espero poder vivê-la mais vezes. E que seja
sempre assim. Um misto de força e alegria. A expressão de um povo forte e
que sabe sorrir, que sabe driblar os problemas da vida. Ouvi dizer que
ano que vem o carnaval da minha cidadezinha vai crescer. Ah, espero que
não. Espero que ela continue assim: pequeno e digno de todos.
Foi um ótimo carnaval. Deixou saudade.
Erika Correia
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