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sábado, setembro 15, 2007

Mudam-se as leis mas não muda-se a realidade.

Ontem ouvi uma frase que me impactou bastante: "A doença do Brasil é SOCIAL e não jurídica". Não se trata de algo inimaginável ou sobrenatural - até mesmo por que todo mundo sabe disso -, mas da simples constatação de que os problemas precisam ser pensados de acordo com a complexidade de suas causas e consequências.
O momento de tensão político-social que estamos vivendo hoje tem causado à população brasileira um desconforto como nunca visto. Diferentemente do tempo em que os graves acontecimentos, que geravam manchetes, para alguns pareciam distantes, hoje como se saltassem das páginas dos jornais, as catástrofes, chacinas e crises de toda sorte, já fazem parte da rotina do brasileiro que tem o desprazer de encarar todas as manhãs o medo de sair de casa, incrementado pelas assustadoras e revoltantes notícias que circulam pela imprensa falada, escrita e tele visada.
Ao lado das notas policiais recheadas de assassinatos, latrocínios e sequestros, temos também os índices cada vez mais alarmantes de analfabetismo, miséria e mortalidade infantil, sem falar nas páginas que descrevem a preocupante realidade política do nosso país, onde a política social cedeu espaço para a corrupção, o desvio de finalidades e o interesse individual.
Assim, depois da dolorosa experiência de pensar na própria desgraça, o brasileiro depois de perceber o mau uso que fez da única arma que tinha - o voto -, apela para a "justiça" como se fosse aquela sua última válvula de escape.
Ouve-se então os clamores!!! Os preocupados com a miséria e descontrole da natalidade, clamam logo pela legalização do Aborto; os insatisfeitos com a corrupção e o cerceamento da liberdade, pedem a liberação do uso da maconha, e os indignados com a violência, exigem de pronto a redução da maioridade penal. Incrível como a relação "causa-consequência" se aplica com facilidade a estes "ativistas sociais"!!
Seria realmente muito bom que esses "pequenos ajustes na nossa legislação" surtissem o efeito desejado, mas lamento informar-lhes que eles não passam de antídotos sociais cujos efeitos nem vale a pena por à prova.
É muita ingenuidade - ou desespero -de nossa parte acreditar que o tráfico de entorpecentes cessaria com liberação do uso de drogas, ou que pareceríamos modernos ao legalizarmos o assassinato de seres indefesos ou mesmo que conteríamos a violência colocando crianças atrás das grades.
Decisões de tamanha importância não podem ser encaradas como apenas um artigo a mais ou a menos em nossas leis. Os problemas sociais precisam ser encarados de frente, discutidos e amadurecidos com responsabilidade. O tráfico que sitiou a cidade do Rio de Janeiro e tem se espalhado por todo país, é o reflexo da omissão do Estado e da sociedade que vem pondo à margem parcela significativa de sua população que cansada de viver indignamente na espera de um amparo do Estado, resolveu se valer de suas próprias armas: as armas do crime. De igual modo, a criminalidade e violência que atinge o país nunca foi nem nunca será resolvida com a criação e ocupação de presídios; cadeia nunca ressocializou aqueles que sequer foram socializados. Colocaríamos mais gente lá pra que? Precisamos de escolas e não de presídios!!!
E quanto ao retrocesso social que o aborto representa... impossível não perceber o quão incompatível é este ato com a noção de modernidade. Enquanto a ciência avança a passos largos, criando toda sorte de medicamentos que previnem a gravidez - e que são em sua maioria distribuídos gratuitamente - nós colocamos em pauta a legalização do aborto...um tanto discrepante, não acham???
Mas enfim, estamos em um estágio de desespero tão grande que a razoabilidade está nos abandonando. Achamos normal "legalizar" tudo o que não presta! Falamos em Legalização sem ao menos conhecermos o teor de nossas leis. Pensamos em reduzir a menor idade penal mas não nos perguntamos se o Estatuto da Criança e do adolescente está sendo aplicado em sua integralidade. Invertemos os valores ao ponto de acharmos que basta o certo deixar de ser aplicado para legalizarmos o errado. Se continuarmos neste ritmo, daqui a um pouco estaremos legalizando o desvio de dinheiro público, o clientelismo nas repartições, a comercialização de produtos piratas... enfim, uma gama de práticas sociais que embora ilegais tornaram-se rotineiras.
Não quero aqui me apegar a conservadorismos, muito menos a uma leitura dogmática de nossa leis. Acredito sim, que as leis podem - e devem - ser reformadas sempre, mas não dá para tomarmos decisões que repercutem na vida de mais de 180 milhões de pessoas como quem decide entre usar um sapato branco ou rosa!! As decisões precisam ser tomadas com responsabilidade, e não é aplicando antídotos sociais que resolveremos o problema. Temos sim, que usar o nosso grito para clamarmos por justiça social, educação, saúde, cultura, para que um dia estejamos aptos a fazer escolhas dessa grandeza.
E o que eu espero dessa história toda, é que mesmo no meio de toda essa tensão social, Deus ilumine a "atordoada" mente de nossos legisladores, e lhes devolva sobriedade suficiente para que tomem as decisões mais adequadas às necessidades nossa população, afinal, é preciso muito mais do que leis para mudar a realidade...

15 comentários:

Éverton disse...

Humm... Posos discordar um pouquinho?

Acho que a liberação do uso de drogas desmontaria uma complicada rede de 'mamadores' que se aproveitam da proibiçao para ganhar em cima dos ilegais usuários. Essa rede está composta de gente grande, desde políticos até políciais, passando por juízes e advogados.

O problema é que pra legalizar tem que ter estrutura e nao dá pra ter tal estrutura da noite pro dia, ou seja, ia continuar sendo uma rede de mamadores com pouquíssimas mudanças.

Ainda assim sou a favor da legalizaáo, nao feita de qualquer jeito, mas passo a passo, tomando todo o cuidado com a estrutura qu e vai sustentar depois.

Mas chegar num ponto em que legalizar será a única opçao.
(Já vimos isso antes nao é?)

É minha opiniao rs.

Sobre o aborto, Em termos gerais sou contra, exceto em alguns casos especiais.

Mas sou totalmente a favor da lei de regulamentaçao do aborto pois ela evitará que muitas maes abortem às escondidas correndo até perigo de vida. Além disso a mae poderá ser acompanhada podendo quem sabe até vir a se arrepender de fazer o aborto (sim eu sei, talvez seja ingênuo pensar assim, mas nao perco tal esperança).

Pra ser mais claro (e usando outrso exemplos) sou contra o sexo pelo sexo, mas sou totalmente a favor da distribuiçao de camisinhas, sou totalmente contra o uso de drogas injetáveis mas totalmente a favor da distribuiçao de seringas.

Há coisas que acontecerao de qualquer jeito, portanto cabe ao governo criar medidas para reduzir e evitar parte delas.

Sei que é chato criar um contra-texto em comentários, mas é que hoje estou inspirado =P.

beijao.
Inté!

Éverton disse...

No mais, gostei do texto (pra variar)!

Let's disse...

para mudar a realidade, é necessário ação, que é o que falta no nosso país....
quem não tem estudo, não consegue agir, pois não vê o que está errado.

apoio a melhoria da nossa educação, pois, como já traba;hei em uma escola pública, entendo muito bem pq nossas crianças continuam indo pelo mesmo caminho que seus pais....

Aju disse...

A sociedade muda, evolui e com ela os problemas, as crises e as doenças...

A crise brasileira dura 507 anos pra ser exato, quando nossa juventude ficar velha vai falar "nunca se viu tanta corrupçao e crimes assim, no meu tempo nao era tao absurda a corrupçao"

Esse tipo de coisa é algo inserido no contexto nacional e antes de quaiquer coisas o brasileiro esta em crise de identidade, de valores onde fala-se do politico corrupto mas no final completa "Ah se fosse eu tb pegaria"

Muito bom o texto
Bjos =)

Aju disse...

PS. pra Isa

Eu estudo sim, é que to fazendo a mono da pos graduaçao que apresento agora em outubro e elaboraçao do meu projeto de mestrado to mto enrolado :/

Anônimo disse...

Olha adorei o texto, a razão e a emoção foram impregadas com coerência e realmente relata o que vivemos.
Agora, na minha opinião, acho que realmente algumas coisas deveriam ser mudadas, afinal (eu não sou advogada ou muito menos curso Direito na facul)mais acho que as coisas mudam, o Brasil, sua gente e seus costumes, seus dogmas e cultura mudam e a nossa Constituição não muda nunca.
Concordo que existem leis suficientes pra banir estes comportamentos errôneos, mas as leis sempre tem as suas "saídas", em resumo são falhas e sempre o acusado vira vítima, que o diga Renan Calheiros. Então além de termos que nos unidar para gritar por educação, saúde, enfim melhores programas socio-economicos, temos que impor que as leis que já foram propostas e estão em vigor sejam cumpridas e que nós, de um modo geral, possamos reipeitar e cumprir-las, afinal apontar o erro dos outros é muito fácil mas se fosse com você será que queria da mesma maneira?

No mais, é aquilo mesmo e por enquanto não muda nada...

Bjokas a todas e Jana vc sempre surpreendente em seus textos, parabéns!!!

Anônimo disse...

Pow! Verdade! Todo mundo ainda pensa que, pra mudar esse país (o que, na atual conjuntura, com esse povinho e esse desgoverninho, é uma tarefa hercúlea... senão impossível), basta mudar a lei.

O problema é a violência? Qual a solução? Aumentar a rigidez da lei penal! O problema é o crescimento populacional? Qual a solução? Legalizar o aborto!

O problema mesmo é a falta de educação; que é algo que não interessa ao governo e ficará do jeito que está. Dizem que brasileiro é um povo solidário, cordial... mentira! Nossas crianças estão nas ruas, nossos políticos estão cagando e andando para os problemas sociais; e o que o brasileiro faz? Fica sentadão "meditando": "- É, o problema está na lei"!

Caraco! A lei não muda a sociedade. Lei é abstrata, lei é papel... é preciso ação! Só isso, AÇÃO!!!

Belo post. É isso aí, concordo com tudo o/

Abraços o/

Anônimo disse...

Desculpa, mas esse blog está papo-cabeça demais.
Reticência parece rimar com Sonolência. :p
Visite o http://jornaloide.com
Boa sorte!

Unknown disse...

clap clap...
Primeiro, é muito dificil encontrar alguém que saiba discursar argumentos como fizeste!
Geralmente as pessoas lançam frases clichês de manchete de jornal diário e expoem com veemencia um grande e simplista sim ou não quanto a questão.
Ninguém verbaliza, ninguém sugere, ninguém sabe o porquê da própria opinião. Daqui já lhe lanço um parabéns.
Quanto aos tópicos, sem grandes contestações, minha querida. Meus anos jurídicos, que não são muitos mas intensos, fazem a chegar numa conclusão parecida.
Alguém poderia por favor, só de início, fazer-se cumprir as leis vigentes? ok! Depois aí discutiremos se devem mesmo ser mudadas...

ósculos

Anônimo disse...

E é claro, concordo com você.
Verbalizastes minha revolta.


Vamos agir?

ChickØ Martins disse...

Isa...


quanto ao seu comentário em meu Blog:


:/

somos 2...rss




Bjo



Fui!!!

N. disse...

Celine (a de cima) me mandou o link desse blog, li o texto, gostei bastante, mas tenho algumas considerações, posso?

vamos lá:

É lógico que sair legalizando a torto e a direito não fará o efeito que estamos em questão. Desenvolver o país pela redução da desiguladade e através de processos educacionais mais justos e eficazes tem parecido cada vez mais utópicos (no conceito de utopia como algo longe de acontecer).

Porém, ao ter como pressuposto as condições de vida e a formação educacional do povo brasileiro, legalizar o aborto e o uso das drogas me parecem mais sensatos que reacionários. O primeiro por que mesmo que as ciências se coloquem de tal forma inovadoras ela, infelizmente não chegam a todos e todas e mais, mesmo que cheguem em alguns aspectos você já viu alguma escola com ma boa educação sexual? parece distante da nossa realidade né? pois é? deixemos as meninas pobres, das periferias brasileiras morrerem em clinicas mal preparadas? esperar quantas morrerem até qualificarmos a nossa educação?

a segunda é ainda mais complexa. O uso e abuso de substâncias psico-ativas vão além do "querer", é dependência, e quando não é, geralmente se coloca como subterfúgio para uma realidade sombria como essa nossa né? Esse comércio ilegal(financiado muitas vezes por nossos legisladores) é que mata muita gente!!! O que aconteceria se o governo passasse a ganhar impostos sobre o comércio de drogas? qual a nova geração de renda nos morros, favelas? dificil saber... mas quem sabe? Matar traficante não tem dado jeito né?

Concordo MUITO com você em relação a maioridade penal. As escolas do crime já são mais preparadas para reintegrar pessoas em formação do que as escolas formais? E reamente temos que ver se o ECA tem sido efetivado né? é lógico que não está!

legalizar pirataria? parece que tem camelôs usando tapadeira no olho e papagaio. Roubando ouro de quem? Vamos entender mais de direito autoral, copyrigth, copyleft, novas e interessantes propostas para um novo mundo de trocas culturais mais intensas.

No mais, a gente tem reclamado tanto (que o diga o movimento cansei!), mas nem lembramos que estamos em uma democracia participativa. A gente sabe dos conselhos de politicas públicas? participamos? a gente tem monitorado a aplicação doi nosso dinheiro? orçamento participativo?

Nem sei se acredito mais nisso tudo, mas é nossa única brecha. Além de fazer beleza. Arte! talvez a única coisa que possa nos salvar!

Anônimo disse...

"...Ver o pôr do Sol na sua cor
Rubra de sentimento..."


Bom fim de semana .

Anônimo disse...

Agora, pensando e analisando bem...
Não, o Brasil não sofre de nenhuma doença, seja "social" ou "juridica".
O que temos são problemas nessas áreas, o que é muito diferente.
Se der, visite o Jornalóide Comunicação Limitada, ok?
Fui!

Gustavo disse...

E o núcleo do câncer fica no planalto central.
O problema é jurídico também, a burocracia, que herdamos da ditadura sobrevive até hoje e atrapalha muita coisa.