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terça-feira, abril 03, 2007

Senhoras e senhores peço atenção para o grande espetáculo! Chegou o momento da grande encenação; vamos colocar as máscaras e fingir os sorrisos. Hei você, professor! Já pode começar a fingir que ensina e que forma cidadãos conscientes. Você também, querido aluno, chegou a hora de ir pra escola, orgulhoso de viver num país onde a educação acontece de verdade e é uma prioridade. Todos os personagens-policiais ou policias-personagens enfileirados, por favor... todos encenando a falsa ordem e a falsa moral. Vamos lá! Médicos, enfermeiros, psicólogos, farmacêuticos e fisioterapeutas, vamos mostrar que a saúde é um direito de todos; vamos mostrar que as filas nos hospitais não passam de farsas e que não morrem centenas de pessoas nos corredores por falta de atendimento básico.
Onde está a personagem-sociedade? A grande estrela teima em se esconder. Na verdade ninguém sabe ao certo quem é essa personagem. Fala-se muito dela, mas parece um tanto quanto abstrata, distante. Mas vamos lá... Avante sociedade! O grande show já vai começar! Venha mostrar sua consciência política e cidadã. Venha mostrar que luta por igualdade social e pelos direitos dos cidadãos. Venha mostrar que os gritos desesperados que ecoam da Rocinha, da África Subsariana, do Ceará, do México, da República Dominicana e de todos os lados do mundo não existem, são frutos da imaginação de uns alienados que andam por aí. Venha sociedade! Mostrar que o sol nasce para todos. E que todos têm a mesma oportunidade sempre. Ah! Excelentíssimos presidentes, venham também! Venham com seus papéis todos participar da grande apresentação. Tragam números que impressionam e não esqueçam os discursos prontos que emocionam! Vamos todos! Você também, meu querido leitor! Venha fazer seu personagem!
Que importam os abismos sociais? Que importam os miseráveis e mortos de fome? Quem se preocupa com analfabetos e com os que têm educação de mentira? Para que grandes preocupações se o mundo todo vive numa grande encenação? O importante é participar, simular sorrisos e subir no palco!
A dor só dói no peito de quem sofre. E quem sofre nem tem direito de participar do grande espetáculo. Mas que importa a dor alheia? Aliás, que dor mesmo? Viva o grande show!
B-R-A-V-O!!!
(Fecham-se as cortinas; e os olhos estão fechados desde sempre...).

8 comentários:

... disse...

E a gente sempre vive nessa... fingindo q fazemos alguma coisa, na verdade nós sabemos...

Janaína disse...

Bra-vo!
Palmas para a sua consciência, para a sua sensibilidade e para o seu caráter!
NÃO ESTOU AQUI QUERENDO ME VALER DE ELOGIOS VÃOS, MAS COMO EM TERRA DE CEGO QUEM TEM UM OLHO É REI, POR MAIS ABSURDO QUE SEJA ADMIRAR UM SER HUMANO APENAS PELO FATO DE SER "HUMANO"(no profundo sentido da palavra), não podemos negar que o fato de percebermos pelo menos a sensibilidade de se enchegar o mundo , já é grande coisa numa sociedade onde os "atores sociais" fingem que encenam o "grande espetáculo da vida"!!
Pobre de nós, pobre vida mediocre que vivemos...
Mas viva à consciência e aos olhos abertos!
E continue a dizer suas verdades, mesmo que precise cuspí-las na cara dos que tentem fechar as cortinas pra vc!

Unknown disse...

Binha, parabéns pelos textos!!! Estão cada vez melhores!!!
Bão

Anônimo disse...

bravo

Anônimo disse...

É um belo texto. Melhor: é um belo espetáculo, todos os dias encenado e todos os dias assistido. Ai de nós: atores de nossa prória história! O dono do teatro, há milênios tem posto este texto em cartaz porque sabe de sua garantida bilheteria. Ai de nós: personagens uns dos outros. Que fazer da dor quando as cortinas descerram? Na platéia, os mais elogiosos, triunfantes e gordos, aplaudem com vigor: Bravo! Os que dormem, acordam ao som das palmas e gritam ainda mais entusiasmados: bravooooo! Bom! Muito bom!Outros torcem o bico para o figurino, a luz, o scripit, o som, e não se dão por si que todos os dias encenam a própria vida. Ai de nós: atores de um só drama, humoristas de uma só comédia. No canto esquerdo do palco, um mendigo contempla a garrafa de cachaça e sente que ali está sua legítima e providencial filosofia. A luz âmbar se apaga. Ou acende?

Wesley

Erika disse...

Feliz! Muito feliz com o blog e com comentários!
E que os olhos se abram... mais e mais!!!

Isa Dora disse...

Muito style.

Thanks, irmãos de Erika.

:)

Éverton Vidal Azevedo disse...

Nossa. Os textos realmente estao cada vez melhores. Sempre sendo um confronto à indiferença nossa de cada dia...

Parabéns.
Bj.
inté!