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sexta-feira, abril 17, 2009

DITADURA / DITABRANDA: ALGUNS TORTURAVAM, OUTROS ERAM TORTURADOS

O jornal Folha de São Paulo em seu editorial de 27 de fevereiro de 2009, colocava em foco a probabilidade da queda do regime de Chávez devido a oposição que o mesmo vem sofrendo e também devido à atual crise do petróleo.
Embora o enfraquecimento do presidente da república da Venezuela fosse o assunto central de que tratava o editorial, o que entrou mesmo nos holofotes foi a pequena (porém, agressiva) citação a respeito da ditadura brasileira. E o que era para ser um simples editorial do qual poucos lêem e comentam, tornou-se motivo de protestos, discussões, críticas e conseguiu abrir velhas feridas deixadas pelos "anos de chumbo" no Brasil.
O editorial classificou os 21 anos de repressão brasileiros como uma "ditabranda" pelo fato de preservar ou instituir formas controladas de disputa política e acesso à justiça. O neologismo usado é péssimo. É ofensivo. E desumano. Para os que sofreram as mais absurdas formas de tortura física e psicológica, o termo usado fez desabrochar as velhas dores dos choques, a falta de ar quando obrigados a cheirar "fumaça de óleo diesel", o pavor da "cadeira do dragão", o horror dos estupros, o pânico da "geladeira", o desequilíbrio nas sessões de afogamentos.
O jornal comparou a ditadura brasileira com as ocorridas em outros países e afirmou, em resposta a um leitor, que a ditadura no Brail apresentou níveis baixos de violência política e institucional. Níveis baixos de violência? Nesse período obscuro da história brasileira crianças foram sacrificadas, poetas e artistas foram exilados, mulheres tiveram seus filhos abortados, a população brasileira ouviu falar de um milagre econômico que só ocorreu para alguns (bem poucos), os direitos foram, vergonhosamente, negados, as leis foram descumpridas, homens, jovens, pessoas de todas as idades e sexo foram torturadas até a morte, vozes foram "caladas"! E a Folha de São Paulo acha-se no direito de classificar tudo isso como uma Ditabranda? Deve ser porque os que hoje fazem esse jornalzinho são os mesmos (ou deles afeitos) que se esconderam atrás de notícias distantes e vagas nos tempos da ditadura. A Folha de hoje, que machuca as feridas alheias, é a mesma Folha que negligenciou as verdades da época dos governos militares, é a mesma que colocava em suas manchetes receitas culinárias enquanto o povo brasileiro era escavacado nas ruas. Sua classificação para os anos de exceção está vinculada à postura omissa que assumiu diante dos fatos. Seu jornalismo esteve sempre muito mais próximo dos torturadores que dos torturados. É que a dor atinge os que sofrem e não aqueles que agridem.
Um Jornal que esconde as notícias atrás de seus próprios interesses, que pisoteia na memória dos que lutaram contra a ditadura e que tenta, tão ridicularmente, apagar as manchas deixadas pelos vergonhos anos de repressão, não merece respeito, não merece leitura, não merece atenção, não merece exposição nas bancas de jornais... não serve para nada.

*Dica para os olhos : Zuzu Angel (filme)
*Dica para os olhos 2 : Brasil nunca mais (livro)
*Dica para os ouvidos:

5 comentários:

Janaína Muniz disse...

Aplausos! Por favor!
Você conseguiu ser dreta, incisiva, "impiedosa", porém verdadeira.

Não há mais nada a ser dito...
Brilhante exposição.

Nina Vieira disse...

Isa, esse texto eh brilhante.
Meu pai foi lider estudantil, preso e exilado nos anos de chumbo. E - acredito - torturado de alguma forma.
(hj em dia ele se transformou nakele ditador q eu te disse...)
Estudo muito a epoca da ditadura e cheguei a ler esse editorial na Folha. Calunia pura. Deviam tomar cuidando com o q escrevem.

Alice Reis disse...

aplausos [2]!!!!

rsrs

vcs atualizaram!!!!!!!! eita coisa boa!

brilhante!!!

bjossssssssss

Éverton Vidal Azevedo disse...

Sim Erika.

A dita cuja de branda nao teve nada. E tem pouco tempo, a coisa ainda nao está curada, e vem a Folha folhear o negócio desse jeito.

É triste viu.

Éverton Vidal Azevedo disse...

E sobre a Venezuela de Chaves. Nao vejo a populaçao mais carente reclamando. Talvez, como acontece aqui em Santa Cruz, o maior alarde seja de uma minoria que nao quer perder privilégios.

Sim eu nao concordo mais com Chaves, já concordei antes, nos seus primeiros anos de governo. É de se admitir que naquele tempo ele deu uma guinada na Venezuela. Agora no entanto, assusta os caminhos que ele tem percorrido.