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terça-feira, junho 10, 2008

Um grito de Consciência

Estava aqui no escritório, trabalhando sobre uma mesa repleta de papéis - como já é de praxe - quando um certo burburinho entre as colegas me chamou bastante atenção. Falavam sobre a terrível experiência de sofrer um assalto.
Confesso que por um momento pensei que ouviria mais um daqueles “clamores incontidos”, que em regra são viabilizados por um discurso vazio de humanidade mas sempre rico em revolta, desejo de vingança e coisas do tipo. Contudo, o que de fato me chamou a atenção nesta conversa, foi a capacidade que as interlocutoras demonstraram, de enxergar o mundo com um olhar de isenção, muito diferente daquele que as circunstancias, os meios de comunicação ou até mesmo a nossa própria natureza nos leva a lançar sobre o problema da violência.
É sabido de todos que a Imprensa com seu sensacionalismo barato e insistente, diariamente nos exibe a figura do excluído social como uma ameaça que compromete a "paz e a bonança" de uma classe média espremida, e que vez por outra tem sido vitimada com os “delinqüentes de chinelo” que assaltam seus edifícios, sitiam suas cidades e ainda mergulham seus "filhinhos inocentes" no mundo das drogas, sempre ignorando a real atuação daqueles que de fato ditam as regras no mundo do crime: os traficantes de alta patente e os “ladrões de colarinho”.
Mas a largo do típico discurso de "Criminologia de botequim”, hoje ouvi alguém dizer algo mais sobre o que significa estar cara a cara com a criminalidade, algo do tipo: "Como não sentir-se impotente diante de um adolescente que em menos de 1 minuto executa um assalto, como se profissional fosse e com uma frieza que não condiz com a pouca idade que possui? E como não sentir-se o mais fraco dos homens em saber que qualquer reação pode significar a própria sentença? Mais ainda, como não pensar que existe um ser humano de fato, atrás da armadura com a qual aquele jovem se reveste? E como não deduzir que por detrás daquele delinqüente existiu um passado obscuro, uma infância roubada. E se além disso pudéssemos voltar no tempo e rever as imagens que foram cravadas na memória daquele menino que dentro da própria casa assistiu as cenas de estupro da sua mãe, os sucessivos espancamentos que se ritualizaram, os barulhos dos tiros que furavam paredes e corpos, e todo um cenário sombrio que contrastava com os dias sem comida, os anos sem escola... em fim, com o retrato vivo de toda uma vida que nenhum de nós é capaz de entender em sua complexidade? É claro que não preciso derramar lágrimas pelos nossos “ditos algozes”, mas não dar pra não notar que a realidade é podre e inquietante...”
De fato, ela é tão inquietante, que não pude resistir à manifestação desta nobre consciência cujo grito, embora silencioso, me permitiu refletir sobre muitas coisas que vão além da resma de papéis sobre a qual estou debruçada. Por isto, faço questão de deixar para vocês o trecho deste brilhante desabafo, e propor que se permitam pensar além das entrelinhas da velha mediocridade humana.
É isso.
Pensem,
Reflitam...
Isso vai lhes fazer bem.

4 comentários:

Éverton Vidal Azevedo disse...

Eu tenho o seguinte pensamento 'encrustrado' como convicçao: Um 'delinqüente' nao nasce do nada.

Anônimo disse...

è sempre bom notar que as pessoas estão melhoorando sua forma de ver o mundo. Tudo bem que não é maioria, mas já é alguma coisa.

Tomara que esse grito de consciencia ecoe alto o bastante para alcançar mentes adormecidas...

Estelar disse...

Muito interessante, é uma realidade presente no dia-a-dia atual. Lembrei daquela frase: Na vida, parte do que somos é o que queremos ser, e a outra parte é o que a vida faz de nós.

Abração Isa!
;)

Do Jeito Que Eu Sou disse...

meu Deus, quanto mais passeio pelo blog de voces mais apaixonada fico...sao tres feras com um poder discursivo impressionante.......Janaina, maravilhoso...é como se o seu texto fosse complemento do meu...passa la e confira, compaixao passe adiante.
parabens.......bjusssssss
http://dojeitoqueeusou.blogspot.com/