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terça-feira, junho 12, 2007

Aula de Português

"Frase na lousa: 'Meninos de rua morrem em chacina no Rio de Janeiro'. A professora analisa com seus alunos: quem morre na chacina no Rio de Janeiro? Meninos de rua! (respondem, enfaticamente, os alunos). Meninos de rua é o sujeito, qual o núcleo do sujeito? Meninos! Exato, não pode ser rua porque já aprendemos que o núcleo do sujeito não pode vir preposicionado. Se meninos é um substantivo e núcleo do sujeito, qual a função sintática de 'de rua'? É um adjunto adnominal. E qual o tipo de predicado da frase analisada?"
É... assim são(quando dadas) as aulas no Brasil. Aulas para formar(se muito) técnicos e nunca cidadãos. Aulas em que a frase " meninos de rua morrem em chacina no Rio de Janeiro" serve apenas para análise morfo-sintática, mas nunca para uma análise social. Porque não há tempo para os questionamentos, não há tempo sequer para pensar o que se vem ensinando nas escolas brasileiras.
Análises morfo-sintáticas de frases não promove a punição justa e verdadeira de políticos corruptos. Saber que o ribossomo dos eucariontes mede 80S e o dos procariontes 70S não faz com que a desigualdade social diminua. Decorar que o cátion Na é mais estável que o sódio metálico não faz com que o IDH do Brasil seja menos vergonhoso. Formar(quando muito) técnicos, mas não cidadãos é o que faz do Brasil um país de apáticos, sem consciência política, país de corruptos, de miseráveis e, sobretudo, país de grandes desigualdades sociais.
Não estou levantando a bandeira do " Não ao ensino técnico"; ao contrário, acho que as técnicas precisam ser ensinadas e bem ensinadas, mas somado a esse ensino é preciso despertar no aluno o hábito de questionar, de romper o cerco da informação professor-livro base, é preciso fazer com que o aluno tenha consciência de direitos e deveres. Aplicar as técnicas à realidade. Fazer nascer o sentimento do social, para que ele entenda que é peça de uma sociedade e assim possa lutar por justiça, igualdade e respeito. E que, acima de tudo, o aluno não veja a construção de uma sociedade melhor como um pensamento utópico, mas como algo que pode ser real, tocável, verdadeiro.
Não adianta formar técnicos sem consciência social; o Estado(teoricamente) deveria oferecer ensino de qualidade para todos, para que esse conhecimento fosse aplicado para melhorias na sociedade e não para ficar acessível a um "seleto" grupo como a realidade tem mostrado. É preciso formar pensadores(no sentido puro da palavra). Acho que aprendi na quarta série fundamental, que o homem difere dos outros animais pela capacidade de pensar. Você já percebeu como algumas coisas técnicas vão sendo esquecidas ao longo do tempo quando não há aplicabilidade prática para elas?
P.S.: Qual a função sintática de "você" na frase acima?
P.S.: A propósito, qual a função de "você" na sociedade?
É preciso pensar...

2 comentários:

Dani disse...

Noooooossa senhora!
Eu garanto a você, que talvez não tenha lido um texto tão vasto em conteúdo quanto o teu! :D
Nossa, eu adorei meeeeeeesmo!
E com um embasamento técnico, você fez uma crítica muito importante, de um jeito eu diria sutil.. xD
Autorize-me a usar seu texto no meu blog? xD
Citando a fonte, claro.

Parabéns!

Aju disse...

Mto bom o texto... é um verdadeiro circo so q da pior especie =/

Bjos