Que pena...

Dois dias atrás estava na Estação Lapa na cidade de Salvador. No meio daquela correria, um policial segurou uma criança de uns seis anos e ia levando-a para o carro da PM quando o irmão mais velho(uns doze anos) do garoto saiu gritando: " Não leva ele não, é meu irmão". Bom, o fato deles serem irmãos parece não ter amenizado nada porque o policial levou, brutalmente, a criança. Eu senti pena.

Pena.

Senti pena.

E constatei que o ser humano é, realmente, muito pequeno. Vivo numa realidade onde policiais são mal remunerados, frustrados e mal preparados; numa realidade onde crianças(que não tiveram educação, cresceram sem estrutura familiar, vivendo num país onde o Estado fecha os olhos e a sociedade cruza os braços), estão sendo levadas pela polícia para um lugar decadente que só vai piorar suas situações de marginalizadas. E no meio disso tudo- EU. E eu sentindo pena?

Meu sentimento de pena não faz melhorar nada. Nenhuma estrutura é destruída e/ou construída com pena. Aquela criança não vai deixar de ser vítima de abusos e sofrer preconceitos porque senti pena dela. Tampouco o policial vai perceber que está ali para manter a ordem que privilegia uma minoria elitista da qual, definitivamente, ele não faz parte.

Meu sentimento de pena só serve para mim. Serve para eu ter a falsa impressão de que sou sensível, que sinto as dores dos outros. Sentir pena é uma maneira de acreditar que o sistema está errado, mas não fazer nada para modificá-lo. Sentir pena é hipocrisia. E o mundo está cheio de hipócritas.