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domingo, fevereiro 25, 2007

Mídia e Consumo: os encantadores de serpente

Estava observando como as propagandas de Tv têm um poder de convencimento voraz de tão sutil. Tenho a sensação que este processo de envolvimento do espectador faz parte de um "maligno" plano arquitetado para atrair como serpente os indivíduos que, carentes por alguns minutos de distração, se tornam presas fáceis dos grandes agentes midiáticos que, juntamente com empresas sedendas por lucros desenfreados, aprisiona o consumidor potencial, penetrando-o neste círculo vicioso de consumir, consumir, consumir... e consumir ainda mais!

Como não poderia deixar de ser, o trabalho é tão bem feito que é possível converter o indivíduo ao capitalismo de tal forma, que ele passa a ser mais um soldado deste exército da mediocridade.

Há um certo tempo temos percebido como os meios de comunicação tornaram-se o principal veículo de acesso das empresas ao consumidor. É nos canais da Mídia que essas grandes empresas exibem seus produtos e se estabelecem no cenário social apresentando sua marca e todos os “atributos” que fazem dela a melhor opção de escolha; tudo isso através de um cuidadoso processo de conquista que reiteradas vezes convida o consumidor a experimentar, inovar, enfim, ceder aos encantos do sedutor produto que a ele é apresentado.

A Mídia nas últimas décadas tem se revelado uma importante formadora de opinião, e não raro, a principal influenciadora da conduta do cidadão consumidor. Sem dúvidas, é com base nisso que nos últimos anos, as grandes empresas têm investido maciçamente em propaganda publicitária. É incrível como a publicidade se tornou um instrumento indispensável à competitividade na política de maximização de lucros e já desenvolveu as mais apuradas técnicas de convencimento do consumidor. Suas investidas são tão eficazes que se estima que em países como os EUA, o poder da indústria da propaganda é tão latente, que 1 em cada 6 dólares é gasto em Marketing.

É interessante notar como os meios e técnicas utilizadas estão cada vez mais avançados. A utilização dos meios de comunicação, que envolve jornais, revistas, impressos e, sobretudo a televisão, não mais se restringe às práticas “marketeiras” de ofertas de preços e condições de pagamento. Os publicitários do século XXI agora apelam para o que alguns estudiosos vêm chamando de “psicologia do marketing”, uma nova técnica utilizada para cativar clientes através da produção de uma nova verdade a cerca do consumo... Nada ingenuos, não é mesmo??

Que me desculpem os que advogam em favor a Mídia, mas continuo a insistir que tudo isso só pode fazer pare de um plano maligno!! As propagandas de hoje chegaram ao ponto de recorrer ao apelo emocional! Essa valorização da liberdade e elevação da auto-estima, revelam uma tentativa de defender o consumo como resposta aos dissabores da vida, como aquele que pode preencher o “doloroso vazio” que assola o homem, associando o ato de consumir a uma idéia de felicidade e bem-estar que desperta um incontrolável desejo de posse no consumidor potencial. Existe algo de "cristão" nessa atitude? Definitivamente, não.

Diariamente são inúmeras as tentativas de levar o indivíduo a consumir mais. As propagandas reiteradamente veiculadas na TV e no rádio, os inúmeros Outdoors espalhados pelas avenidas, cartazes e letreiros pendurados nos mais diversos pontos, panfletos distribuídos por toda cidade, e o mais intrigante: pessoas que mais parecem manequins ambulantes compondo uma dinâmica vitrine onde são exibidas as tendências da moda, apresentadas nos produtos das mais diversas marcas, que sugestivamente deixam a vista suas etiquetas imprimindo destaque e status ao ator social deste submundo da superfluidade.

Para piorar a situação, o consumidor que se vê massacrado pela publicidade em seu cotidiano, atira-se numa competição estatutária na tentativa de se enquadrar o máximo possível à sociedade ideal vendida pela publicidade e propaganda . E é aí que mora o perigo! Como nesse universo fantasioso o acesso às coisas é autorizado apenas com a intermediação do capital, um enorme contingente da população é excluído da real possibilidade de possuir a infinidade de produtos que diariamente são injetados neste impiedoso mercado e acaba se contentando com o “prazer” de admirar vitrines e fantasiar os inatingíveis sonhos de consumo. Isso quando não perseguem caminhos socialmente reprováveis para atingir seus objetivos...

É evidente que toda essa “saborosa ilusão”, criada pelo sistema e veiculada pela Mídia, contribui significativamente para a formação de uma sociedade que de tão contaminada pela idéia de sucesso alimentada pelo consumismo, torna-se apática e indiferente diante da brutal desigualdade que a assola. As crianças crescem cultivando o hábito de consumo, os jovens vislumbrados com a facilidade do dinheiro não encontram tempo para refletir sobre os impactos de sua ausência, e a sociedade restringe-se ao pequeno mundo ao seu redor. As crianças e os jovens são os alvos preferidos na criação de novas necessidades pela Mídia. Incapazes de entender o que é a TV e o que visa a propaganda, passam a querer tudo o que é apresentado, crescendo assim totalmente vulneráveis. É o que Konrad Lorenz em sua obra Civilização e Pecado, denomina de "neofilia", a afinidade irresistível para com tudo que aparece como novidade.

De fato, percebemos que a sociedade está doente, e todo um sistema encabeçado pela Mídia que manipula, converte e também corrompe, é legitimado pelo Estado que por vezes se esquiva da responsabilidade de intervir decisivamente nessas relações, traçando metas a serem atingidas e estabelecendo limites a serem obedecidos, a fim de que construamos uma sociedade capaz de pensar autonomamente, segundo suas próprias impressões, livre de modismos e da manipulação voraz deste sistema selvagem e altamente ambicioso. Mas se o Estado é omisso, também não pecisamos agir como marionetes desta indústria midiática. Somos seres pensantes, temos autonomia para dizer sim ou não!

Podemos escolher o que assistir, criticar o que não nos parece construtivo, deixar de comprar produtos de empresas cuja responsabilidade social é questionável... coisas assim.

Por favor, vamos reagir contra esse atentado à nossa liberdade de escolha, e contra o "bombardeio" diário ao qual está submetido o nosso intelecto! Seja pública ou privada, aberta ou fechada, já não está dando pra aguntar tanta "porcaria" em tempo real!

Então... que tal deixarmos a Tv de luto por uns dias? Contanto que não recorramos aos Shoppings Centers, qualquer coisa deve ser melhor do que assistir televisão aos domingos, não acham?


6 comentários:

Unknown disse...

Embora o que eu vá dizer pareça contraditório, esse texto mostra o nível de maturidade que o consumidor brasileiro está atingindo.
Você, como consumidora (e não consumista) brasileira é capaz de chegar a esse tipo de reflexão apresentada. Então, há esperanças. =)

Anônimo disse...

Nossa muito bom esse texto. Não há dúvidas que o capitalismo está cada vez mais selvagem e predatório nos consumimos produtos e o preço dessa vida mediocre e a diminuição e esfacelamento do tecido moral e social dos homens. Tudo é material e individualista, vemos pessoas se matando de trabalhar em busca de status. Eu prefiro minha vida simples com amigos, amor e algumas horas para ficar com meu gato.
Parabéns pelo texto está do cara...
rs..

Isa Dora disse...

Esse coment era pra estar no blog do Eduardo, mas não tô conseguindo comentar lá:

Oi Eduardo!
Idéias existem, o q falta é inciativa. os governantes sabem de tudo isso aí q vc falou, mas não existe interesse em pôr nada disso em prática.
Hoje eu queria estar mais otimista, mas não tem como.
Beijos.

Anônimo disse...

Estou com saudades dos seus posts!!
bjss
Também estou sem tempo, o TCC está me consumindo por inteiro mas amanhã passe no blog do fog, haverá mais um momento de contestação!!

Anônimo disse...

ler todo o blog, muito bom

Ensino,religião e política. criticas. disse...



Vivendo para consumir.
Todos nós brasileiros e também todos que vivem em países onde impera o consumismo acontece a mesma coisa, o cidadão estuda, se esforça para aprender uma profissão para ganhar mais e levar uma vida tranqüila sem nenhum problema financeiro. Podemos pensar, quem ganha bem está tranqüilo sem problemas em suas finanças, ledo engano, porque á medida que o cidadão consegue aumentar seu ganho, automaticamente induzido pelo consumismo seus gastos também se multiplicam. Sendo assim a paz e a tranqüilidade que era o objetivo inicial cai no esquecimento, a partir daí induzido pela mídia a pessoa entra em um consumismo exagerado, para comprar e participar de tudo que a mídia os induz a fazer. O cidadão precisa trabalhar como um burro de carga, sendo assim, quem trabalha demais não tem tempo de desfrutar pelo menos um pouco de paz e tranqüilidade. A partir daí a vida se torna um suplicio interminável, pois a ordem é ganhar e gastar até o fim da vida. Quando perceberem o erro já será tarde, estarão com os cabelos brancos, os rostos enfeitados com rugas, braços e pernas enfraquecidas e total indisposição.
Como evitar este estado de coisa, temos que policiar o nosso desejo de consumo, pois nem tudo que consumimos nos traz felicidade, muitas coisas são supérfluas e sem nenhum sentido prático, para isso temos que usar o bom senso, a razão e não se deixar levar pelas propagandas veiculadas pelas televisões, rádios, revistas e jornais. Nossa vontade, nossa vida tem que ser dirigidas por nós e não por terceiros a seu bel prazer.
Paulo Luiz Mendonça.