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terça-feira, fevereiro 06, 2007

Mo-vi-movii--movi-meeen-moviment-ttt-movimento

Vez ou outra me percebo distraída com os olhos perdidos. Fico tempos pensando na capacidade que se tem de permanecer parado. Resolvi buscar explicações. Li num livro desses aí que um corpo parado tende, por inércia, a permanecer parado; e um corpo em movimento tende,por inércia, a pernanecer em movimento. E aí surgem muitas interrogações. Porque estamos parados? O que falta para o movimento das muitas gentes? Segundo a Física, força é uma interação entre corpos que produz movimento. Fico pensando, então, onde está a força capaz de produzir o movimento social? O movimento contra a desigualdade, a fome e a miséria? Essa força muito antes de estar na política, nas escolas ou ONG'S, está em cada ser humano.
É preciso se perder o medo. O medo de dizer não; de se mostrar; de gritar. O medo paralisa, faz recuar, faz calar as muitas vozes. As vozes precisam gritar em tons diferentes, precisam criar um coral desafinado, precisam gerar movimento. Uma ação(movimento) pode girar muitas engrenagens(movimentos).
O fato é: precisa-se ter força para sair do estado de paralisia para o estado de movimento. Quando todos se conscientizarem dessa necessidade, haverá menos crianças pedindo nos sinais, haverá menos olhos que choram lágrimas invisíveis, haverá menos medo, e dor, e desespero. E haverá, sobretudo, menos olhos fechados e mais lábios na intenção do sorrir.
Certa feita escrevi um conto que retrata um pouco essa relação medo-paralisia-força-movimento. Vou escrevê-lo aqui.


VENTO FRACO(OU OLHOS PREGUIÇOSOS)
Flores vermelhas num jardim cinzento. O vento perguntou ao príncipe de calças estranhas:
-E o que é felicidade?
O menino mais preocupado com seus carrinhos de portas que abrem e fecham, respondeu:
-Felicidade é porta aberta.
E o mundo explodiu. Todos os meninos agora eram príncipes. O menino que era filho único virou prícipe das brincadeiras de brincar sozinho. O menino que dançava virou o príncipe dos aplausos e das notas perdidas no tempo. O menino de rua agora era príncipe do malabarismo e da fome que tem mania de se esconder.
O vento tentava abrir as portas; chaves trancam portas. Existem muitas e diferentes portas, mas poucas chaves. O Universo que é um velho sábio, doido e distraído, não consegue entender a demora do vento para desatar os nós. Muita gente acha que as portas se abrem sozinhas e que deve ser um trabalho individual, quase manual e muito demorado. Algumas muitas outras gentes não sabem da existência das portas. E algumas, ainda, fingem não vê-las.
Vez ou outra as estrelas vêem ajudar o vento(ele chora sozinho para elas se apiedarem). Elas colocam um pouco de luz aqui e ali. E também põem encanto(encanto produz espanto e espanto produz percepção). As estrelas-do-mar, mesmo que raramente, também ajudam nesse trabalho de escanto-espanto.
Príncipes constrem castelos ou castelos são construídos para príncipes? Quem são os príncipes? E quem constroe os castelos? Castelos são grandes e possuem muitas portas. Então, a felicidade estremece de medo e se esconde num canto a cada vez que se constroe castelos. A felicidade queria gritar, mas não tem a saúde muito boa e não anda se alimentando muito bem. Felicidade tem medo. E portas precisam estar abertas para que ela saia, conheça muitos lugares, pessoas diferentes. A felicidade é sorridente. E tem um abraço fraternal. Mas as portas quase sempre ficam fechadas e o vento é fraco(porque não encontra as chaves).
O velho risonho, divertindo-se com a confusão do vento e das estrelas(também as do mar) e distraído com o brincar de fazer de conta do príncipe, começou a falar:
-Todo mundo tem as chaves. Chaves abrem portas e portas são pensamentos. Portas são fechadas pelos preconceitos, pela ambição e, principalmente, por olhos fechados. Olhos fechados fingem que não sabem. Não existe um nome para a chave. Primeiro porque cada um tem a sua e dá-lhe o nome que achar cabível. Segundo porque não é uma coisa só e imutável. Eu sei que não. Existem muitas portas, algumas, talvez, jamais serão abertas (porque o homem é pequeno e não alcança as fechaduras), outras podem ser abertas com a ajuda de todos e rapidamente, basta abrir os olhos e perceber a chaves.
Nesse momento o vento quase parou, o príncipe espantou, estrelas esconderam-se por trás do firmamento e pode-se ouvir o barulho grande de portas que iam se abir. A menina despertou, olhou as horas num relógio verde. Idealizou ainda ser cedo e esquentou-se com seu cobertor de castelinhos, cheios de portas fechadas.


É isso. Vivam as portas abertas. Viva o movimento.
Abraço. E força... muita força sempre.

Um comentário:

Anônimo disse...

Que lindo!

{Encantador}